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Relações Internacionais
Embraco se vê no centro da campanha eleitoral na Itália
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Relações Internacionais
Com a oposição e a mídia capitalizando o drama dos trabalhadores e manifestantes bloqueando vias e se acorrentando aos portões da fábrica, o furor ocorre num período delicado da campanha eleitoral do governista Partido Democrático (PD, de centro-esquerda).
O PD está tendo dificuldades de convencer os eleitores de que a economia melhorou na sua gestão, apesar da volta ao crescimento e da queda do desemprego.
A situação também pôs o partido na defensiva devido às suas posições pró-União Europeia e pró-comércio global, num momento em que políticos oposicionistas eurocéticos e antiglobalização culpam Bruxelas pela decisão da Embraco de deixar a Itália.
"Se você tem uma moeda única e um mercado único, você concorre em custo da mão de obra, e as empresas se mudarão para onde puderem pagar menos a seus funcionários", disse Claudio Borghi, assessor econômico e candidato ao Parlamento do partido Liga do Norte, parte da coligação de centro-direita que lidera as pesquisas.
Giorgia Meloni, líder do Irmãos da Itália, partido nacionalista que compõe a mesma coligação, disse que seu grupo, se chegar ao governo, "garantirá que caso semelhante… jamais se repita na Itália. Nós vamos defender o trabalho italiano e apoiar quem cria emprego".
A Embraco anunciou as demissões em janeiro, fixando um prazo de 75 dias – que termina no fim de março – para finalizar o plano.
Carlo Calenda, ministro do Desenvolvimento Econômico da Itália, e sindicatos tentaram convencer a empresa a aceitar outras opções, mas nesta semana a Embraco confirmou os planos.
Num esforço de conter as consequências desfavoráveis, Calenda foi a Bruxelas na terça-feira para encontro com Margrethe Vestager, a comissária antitruste da UE.
Calenda questionou na mídia italiana nos últimos dias se a Eslováquia teria oferecido incentivos fiscais à Whirlpool que possam infringir as normas de ajuda governamental, e acusou países da Europa Central e do Leste de praticarem "um dumping social gigantesco".
Ele pediu a Vestager que a Itália fosse isentada do cumprimento das normas de ajuda governamental para que o país tentasse contribuir para convencer a Whirlpool a manter os empregos na fábrica nas proximidades de Turim.
Autoridades da UE disseram estar examinando uma carta recebida de Roma na semana passada e se empenhando para confirmar os fatos. As regras antitruste proíbem ajuda regional para a transferência de atividades no âmbito do Espaço Econômico Europeu.
"[Vestager] me garantiu que a Comissão [Europeia] é muito intransigente na verificação de casos nos quais haja um problema de uso equivocado ou ilegal de ajuda governamental a fim de atrair [empresas] de outras partes da UE", disse Calenda.
A Whirlpool não respondeu a pedidos de comentário. O Ministério da Economia da Eslováquia disse não ter informação de que "o investidor tenha pedido ajuda de investimento ao governo" e acrescentou: "A Eslováquia usa o apoio a investidores apenas em conformidade com as regras da UE".
Num sinal da crescente frustração do governo italiano, Calenda criticou os diretores da Embraco na mídia local, descrevendo-os como "gentalha" e dizendo que eles querem travar uma "guerra" com o governo italiano.
"O que é certo é que continuar negociando com pessoas que descumprem de acordos efetuados e não demonstram o menor senso de responsabilidade social é absolutamente inútil", escreveu ele em mensagem postada no Tweeter.
O caso captou a atenção da opinião pública em parte devido à eleição, mas também devido ao ativismo dos trabalhadores.
Eles bloquearam vias na região do Piemonte, tiveram audiência com o papa Francisco – que os teria conclamado a "lutar e ter fé na luta" – e realizaram manifestação no festival anual da canção italiana de Sanremo. Um trabalhador se acorrentou ao portão da fábrica na manhã de terça-feira. Além disso, dirigentes do partido Movimento 5 Estrelas, anti-establishment, se reuniram com os funcionários.
A Embraco disse ao "FT" em nota que a decisão de dar continuidade às demissões e de transferir a produção foi "motivada pelo setor altamente competitivo de compressores" e por "complexidades de longa data" que impedem que a unidade italiana seja lucrativa.
"A Embraco está plenamente consciente de suas responsabilidades para com seus funcionários. A empresa se compromete a trabalhar em estreita colaboração com representantes dos funcionários, autoridades públicas e autoridades locais na busca de soluções especialmente formuladas e viáveis para a equipe afetada", declarou.